segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

4 meses!

PRIMEIRO VÔO ( CICLO DA VIDA)


Estava cá com meus botões remoendo sobre a vida. Verifiquei que ela passa muito rápida, lembrei-me então de uma citação que diz:

                “a vida é muito curta pra fazermos pequenas coisas ”

                Isso mesmo, um dia desses era eu o passarinho que saía de casa, que dava com a “cara” no mundo, por entender naquele momento que minha pequena Itapipoca/CE, não mais me cabia.

Claro que a “fome de conhecimento” pairava neste adolescente que apesar dos escassos recursos, não vacilou, nem mesmo imaginou as angústias, alegrias e outras adversidades que poderia enfrentar além da clausura das paredes da minha casa. (casa da mamãe e do papai).

Mesmo assim, saí pro meu primeiro vôo. Insegurança, desconhecimento da vida, perplexidade diante das novidades. Nem tudo foi flores, pois, chegaram as responsabilidades ao passar do tempo e a luta pela sobrevivência.   A vida, a melhor escola. Aprendi a colocar em cheque as minhas idéias contra as idéias dos outros. Meus pensamentos, estes algumas vezes por mim tidos como os mais acertados, contudo, aprendi que devemos somar ou dividir com os dos outros e, isso às vezes faz-nos engolir a seco. Nos amarguramos.

Este pequeno prólogo é para tecer alguns comentários sobre meu primogênito, que no presente se encontra do outro lado do mundo. Lembrando! em seu primeiro vôo solitário.

Converso com ele, leio o que escreve e, tento sentir nos diálogos as dificuldades, as tristezas, as alegrias, afinal, os sentimentos afeitos ao um marinheiro de primeira viagem. Como no princípio, primeiro a luz depois alguns escuros. O êxtase da chegada, aos poucos diluído pelas tarefas do curso, concomitantemente, pela luta da sobrevivência.

Nota-se algumas repetições naqueles que se remetem ao primeiro vôo sozinho:
- Não querer ajuda dos pais, é um marco em todos eles;
 - O sentimento de liberdade, o vigor físico aliado aos hormônios em efervescência, os fazem crê que o mundo à sua frente é apenas um horizonte plano a seguir.

 Rapidamente, as planícies ficam para trás e já se deparam com o óbvio, as montanhas. O cansaço, o medo, as desilusões, as decepções e principalmente ela, a solidão. Para surpresa e espanto, estes obstáculos começam a fazer parte de seu panorama ou curso de vôo. Aquele ninho que o protegia ficou para trás e ao se lançar, levou consigo uma mistura de poder, associado a uma vontade de voltar e não “perder” os protetores naturais e físicos que até então os cercavam. Sentem ao olhar para trás, que já estão em pleno vôo e que não dá mais para “voltar” pois, chegou a sua hora. Irão voltar, porém, jamais serão os mesmos “pássaros” que instantes atrás, interiormente, se consumiam em seu mundo de incertezas. O que se passa no primeiro vôo, a aprendizagem, nada mais é senão, um resumo daquilo que iremos nos deparar pelo resto de nossas vidas.

Voltando ao caso em particular, como um velho marinheiro, interpreto os sentimentos deste filho (passarinho) que ainda permanece sobrevoando as planícies, as montanhas, o mar... ele ainda não retornou do primeiro vôo. Mesmo sem seu retorno, capto as mensagens. Algumas já programadas pela natureza, outras, são repetições de quem já passou pelos mesmos caminhos e, finalmente, àquelas, cujas não podemos penetrar, afinal, são próprias, segredos que mantemos para nos avaliarmos se devemos continuar ou descartar, são as dúvidas.

As experiências que trouxeram felicidades, essas não precisam de maiores comentários. Felicidade é felicidade. Captei que já se deparou com as primeiras tristezas, decepções e injustiças, ou seja, as turbulências começaram.

Hora de voltar? Acho que não! O vôo da vida está apenas começando, como retornar? acabou de decolar! Precisa fortalecer as asas. O ninho já não é mais visual e a bússola natural terá que entrar em funcionamento. Os ensinamentos, a preparação adquirida no decorrer da estada no ninho, o que foi repassado pelos pais, como um furacão vêem à tona e em pleno vôo. Hora de decidir sozinho qual rota a seguir, qual arma a usar contra os predadores e contra si mesmo. Surge a imensa vontade de querer sentir arrependimento de ter saído do ninho aconchegante.

Assimilei nos diálogos que já provou uma dose de um dos sentimentos mais amargos que avalio. O sentimento de injustiça. Para seu governo, aviso que não será o primeiro, afinal, quem o experimenta, sempre avalia que não merecia a injustiça sofrida. Não se desmotive ou se deixe abalar por essa decepção. Sofremos injustiças. Como marinheiro que ensina a nadar, também sofro injustiças, o que faço? Não repasso ou difundo para outras pessoas que mais frágil que eu, são indefesas, não saíram nem mesmo do ninho para seu primeiro vôo. Não cometa outra injustiça ao ser vitimado.

Vejo que já provou da saudade, da solidão, da rotina e da perca. Já percebeu que está sozinho não é a mesma coisa que está livre. Muitas das coisas que queria fazer se tivesse a chance de um dia estar sozinho, hoje já não desperta mais interesse em realizá-la ou repeti-la.

Irá sentir que mesmo dispondo do vigor necessário, chegará a hora de pedir ajuda, pois, os caminhos começam a ficar mais tortuosos no decorrer do vôo e ai é hora de  voltar ao ninho para descansar e planejar quem sabe um vôo mais ousado. Encontrará com certeza asas abertas para acolhê-lo, ninho limpo e muitas perguntas a responder a cerca do sobrevôo.

Por outra banda, descobrirá que a vida é uma roda, e ao poucos perceberá que este primeiro vôo não foi sua primeira despedida. Daqui a pouco perceberá que os companheiros de viagem seguirão seus próprios rumos, e que, às vezes em que permaneceu à frente da revoada como guia, agora, dará lugar a outros amigos a quem dará muitas vezes a vida em confiança.

Mais à frente, será um velho marinheiro. Assistirá suas crias realizar seus primeiros vôos, perceberá neles os mesmo sentimentos aqui relatados. Vislumbrará em seus olhos a inexperiência, a vontade de vencer, ao mesmo tempo, a imensa vontade de não querer deixá-los voar para longe.  

Verá também que com o tempo, deixará de fazer aquilo que gosta, perderá os amigos pelo curso natural da vida ou outros motivos, enfim, a coragem de ter se lançado ao primeiro vôo contrariando os desejos dos pais, dos amigos ... valeu, e como valeu !  

Uma última coisa. Mesmo que um dia se auto intitule como um “velho marinheiro “ e que já tenha realizado inúmeros vôos pela vida, tenha certeza passarinho, que o nosso ninho estará intacto, sempre pronto a recebê-lo.

Mesmo que tenha crescido, coração de pai e mãe é bastante espaçoso para acolhê-lo. O lugar ? O mais quentinho que existe para um filho passarinheiro. O coração.

              O velho Carcará, te recomenda: voa passarinho, mas te suplica, voooooooooooolta!

Natal/RN, Brasil - 13/12/2009


Papai (velho marinheiro).

10 comentários:

  1. Simplesmente espetacular.
    Confesso que fiquei surpreso quando recebi essa mensagem e que fiquei muito feliz e bastante emocionado com tudo que li.
    Concordo plenamente com tudo que foi dito e nem sei como agradecer palavras tão confortantes como estas.
    Realmente há momentos em que a mais simples palavra de incentivo e força faz toda diferença pra quem está só e lidando diariamente com pedras no caminho, principalmente vinda de uma pessoa como meu pai, a quem eu tanto admiro como exemplo de pessoa, independente do parentesco. Pode deixar que o passarinho tem muitos motivos pra voltar ao ninho e na hora certa ele estará de volta.
    Fico feliz tbm por ver um de seus textos, pois sei que ele escreve sempre e escreve muito bem, mas dificilmente mostra suas obras.
    Enfim, Obrigado pela força mais uma vez...
    Mais um mês se passou, mais alguns caminhos tortuosos foram vencidos e que venham os próximos...

    Obrigado tbm a todos que acompanham o blog e comentam a cada post, eh uma coisa simples mais que me mostra que não estou sozinho.

    Abraço!

    Te amo, velho marinheiro!

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  2. Nossa! Agora tá explicado que o dom das sábias palavras tá no sangue, é de família!
    Depois disso, será que tem mesmo algo a ser comentado?!? Acho que não!
    Beijos!
    NNeuga

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  3. Fantástico texto!

    Espero de coração que o vôo seja o primeiro de muitos, e que a cada retorno ao ninho o passarinho esteja mais e mais forte!

    Torço muito por vc, pelo seu sucesso e pela sua felicidade!

    Que Deus te abeçôe!

    Beijo

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  4. Lindas palavras!
    =)



    ... é Stéfano, voce nao está sozinho! ;)

    Bjaaooo

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  5. Stéfano, todo este apredizado, essas novas experiências que fará parte da sua vida para sempre. Claro que voce será sempre um grande vencedor assim como seu pai, não esqueça: "Não
    há glória sem safrifícios"
    Um forte abraço e que Deus te abençôe sempre.
    Ivo

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  6. Benção padrinho lindo!vc é especial para mim, e um grande vencedor.y love you

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  7. Meu Filho, seja 0timista e forte o bastante...Afim de que vc sempre consiga se sair bem e vencer todas as pedras que surgem no seu dia-adia.Você sabe que eu estarei sempre aqui esperando vc voltar os dias se passam e a saudade vai aumentando. Te amo muito, filho beijos!Sua Mâe

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  8. Ei, eu tbm sou um passarinho??

    Hehehehehehe

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  9. ...palavras sábias, e um texto de pura dedicação , amor e carinho de um pai que, com sua larga experiencia, mostra a verdadeira razão da viver, p/ um filho que tem muitas alegrias á dar a toda a sua família...força stefano, por mais dificil que seja..vc ainda alcançará muitas conquistas...Parabéns aos dois..boa sorte! e tudo de bom!!!

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